Pai/ Mãe de Santo Pode Proibir o Filho de Santo de Visitar Outro Barracão?

Pai/ Mãe de Santo Pode Proibir o Filho de Santo de Visitar Outro Barracão?

Ao iniciar no Candomblé e até mesmo na Umbanda, nos segredos do culto ao orixás (Àwon Òrìsà), o filho de santo entra em uma rígida rotina. O Candomblé e a Umbanda possuem códigos próprios para o bem andar do culto, que é sempre levado com seriedade e responsabilidade, afinal de contas, está se lidando com energias espirituais fortes.

O pai de santo ou a mãe de santo, também chamados de bàbálórìsà ou ìyálórìsá, são os grande responsáveis por manter e conduzir de maneira harmônica todo o culto. A eles que os deuses africanos enviam, direta ou indiretamente, as mensagens de como deve ou pode ser conduzida uma comemoração de anos de iniciação (odún òrìsà) por exemplo ou a iniciação de um novo Ìyáwò, etc.

Esses líderes espirituais escolhidos, sim escolhidos, pois não é qualquer um que possui o dom de ser pai ou mãe de santo, devem ser a base de ensinamento dos filhos de santos, aqueles que a eles confiaram a vida espiritual que muitas vezes vem atrelada à a vida amorosa, profissional, familiar e até mesmo sexual.

Mas até onde vai o “poder” do zelador ou zeladora de santo? Qual o limite na relação filho de santo e o pai/mãe de santo?

O Que Pode Um Zelador ou Zeladora?

Quando uma pessoa entra para o culto ao orixá, busca soluções, alívio, um caminho e muitas vezes um reencontro. Quantos não se sentiam vazios antes de entrar para o Candomblé ou Umbanda, mas depois se sentiam fazendo parte de algo maior, se sentiam em contato com algo mais forte e que lhe dava direção na vida, base?

A figura do pai ou mãe de santo entra nessas horas como aquela que guia, aconselha, transmite. Ao zelador cabe a transferência de àse, a transferência de conhecimento para que o noviço possa caminhar com mais segurança. A segurança espiritual para momento tribulados que sempre surgem na vida dos filhos de santo.

Manter o ìyáwò fortalecido, informado e seguro espiritualmente deveria ser uma das funções de um zelador, pois na iniciação está havendo uma entrega de corpo, alma e mente. Ao filho de santo cabe respeitar e zelar por tudo que lhe é fornecido, gratidão constante.

Um zelador pode sugerir ao filho de santo que não faça determinada ação, pois o pai de santo, conhecedor pela experiência de vida, sabe que aquilo pode influenciar o àse do filho, pode fazer o òrìsà reagir de uma maneira ruim, pode desandar o que está bem encaminhado!

Uma zeladora deve, com toda certeza, proibir o filho de coisas que possam influenciar o barracão, ele próprio e os demais filhos do ilé. Imagina o filho de santo trazer energias ruins para o barracão. Imagina mexer onde não deve, sujando espiritualmente determinados locais!

Dever do zelador nos momentos oportunos, aquele onde há tempo e maturidade espiritual, transmitir conhecimentos e práticas ao ìyáwò que somente os de mais tempo de casa podem saber (Aqui ìyáwò me refiro a qualquer pessoa que o pai de santo iniciou, não importa se tem 20 anos de santo 😉 ).

Um babalorixá/ Yalorixá com certeza irá focar em ter um axé forte, unido e com capacidade de crescimento espiritual que transborda e influência positivamente a vida de todos que fazem parte daquele todo. E isso só se consegue com orientação, educação e muito zelo ao sagrado e aos ser humano.

Os orixás daquela casa com certeza serão gratos, fortes, com muito axé e a vida de seus filhos com muita prosperidade, paz e harmonia.

Mas…

O Que Não Pode Um Zelador ou Zeladora?

Fiz recentemente uma postagem sobre a violência dentro dos barracões, então será por aí mesmo que iremos começar: nenhum zelador ou zeladora pode, usando o nome da religião ou do òrìsà, agredir seu filho de santo. Se quiser ler mais sobre esta postagem – Clique Aqui. E mesmo não usando o nome de religião ou òrìsà não deve agredir um ìyáwò, e vise-versa.

O zelador ou zeladora não é dono do corpo do iniciado, não é proprietário de sua vida. O contrário disso é escravidão, só nessa época vergonhosa que uma pessoa era proprietária de outras pessoas e nelas mandavam e desmandavam.

Dessa forma, também não deve o zelador se meter na vida amorosa dos filhos, proibindo namoros, relações. Claro, se o jogo, em uma consulta mostrar que aquela escolha não trará boas consequências, já é outro assunto. Ai vai até mesmo um conselho.

O título se refere a proibição que muitas casas têm de que seus iniciados não podem visitar outras casas, salvo em companhia do zelador ou de um ègbón da casa. Essa proibição se dá pela maldade que há no meio, pois é, não deveria, mas há maldade entre os candomblecistas que muitas vezes querem queimar (Influenciar com energia ruim) a casa alheia.

Neste ponto, super compreensivo um zelador aconselhar o filho não andar por algumas casas. Vai que seja a casa de um rival do pai ou mãe de santo e o filho desavisado foi convidado para uma saída ou obrigação de ano.

Mas é natural as amizades, fortes laços de amizades entre filhos de ilé diferentes. Nesse caso pode o zelador não deixar o filho ir na casa do outro? Como foi dito, não pode ninguém proibir ninguém de nada, mas deve o zelador informar, deixar o ìyáwò consciente da escolha que irá fazer.

Lembra de uma das atribuições do pai ou mãe de santo – informar – nessa hora que ela entra. Infelizmente muitos se sentem deuses e acham que tudo pode sem nada poder lhes impedir. Não, um zelador não é um ser supremo e solitário. Tanto que quando seu òrìsà toma sua cabeça, coloca os pés no chão.

Zelador não é dono de ninguém, nem mesmo do òrìsà que ajudou a iniciar na cabeça do ìyáwò.

Não pode o zelador se apropriar de bens comprados pelos filhos de santo e isso gera assunto para uma outra postagem em breve.

Claro que aqui estamos falando da imaturidade de algumas pessoas que alcançaram essa posição de líder espiritual. Essa mesma atitude há também em outras religiões, infelizmente. Ou seja, é uma mau do ser humano e não do pai ou mãe de santo.

Ìyáwò X Bàbá / Ìyálórìsá?

Claro que não deve haver rivalidade entre as partes, em hipótese nenhuma. Assim como em uma família sanguínea, a desavença e brigas em uma família de santo só traz desarmonia, energias ruins e rupturas.

Deve haver um diálogo constante entre as partes. Cada ponto deve ser debatido. Um ìyáwò bem informado, doutrinado sempre será compreensivo com seu axé. Haverá muitas vezes ingratidão, todo zelador ou zeladora sabe disso. Quanto suas mãos não ajudaram a levantar e se foram após estarem lá em cima?

Deve o ìyáwò buscar a união com seu axé e zelador/ zeladora.

Deve o zelador cuidar, educar e soltar as amarras de seus filhos, iniciados sobre suas mãos.

E você, acha que o zelador ou zeladora pode proibir o filho de santo de visitar outras casas? Deixe sua opinião nos comentários!!

Ó dàbò!

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Comments
  1. Flávia
    • Olùkó Vander
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